sábado, 4 de março de 2006

"I want it all" ou "All we need is love"

Veja da última semana, a matéria de capa é sobre ambição, da jornalista Daniela Pinheiro, autora de outras boas matérias. Fala da ambição que gera maravilhas e da que gera tragédias. Nela, descobri que ambição é um substativo de origem latina que significa "querer ambas as coisas, querer tudo". Tempos atrás, tinha pensado no porquê de algumas (muitas) pessoas, principalmente mais velhas, proferirem seguidamente a frase: "não se pode ter tudo, sempre teremos que abrir mão de alguma coisa", etc, etc. E eu me perguntei: por quê? Para quê isso? De onde veio isso? Isso não é real. Tudo bem, uma coisa é se concentrar em algum objetivo, momentaneamente, com prazo definido e abrir mão, momentaneamente, de algumas coisas em nome de outras. No mais, essa frase dita assim, sem advérbios de tempo,assusta e intriga. Uma culpa cristã aparece como a única resposta plausível, conforme já havia mostrado Max Weber, em A ética protestante e o espírito do capitalismo, que para a religião católica, a ambição é pecado porque prevê uma vantagem pessoal e não divina, enquanto sua vertente protestante, que valoriza ot rabalho duro e suas recompensas, reconhece nisso um serviço à sociedade e mostrando seu valor a Deus. A matéria fala de ambição como um todo, como a força que orienta para coisas grandes: por amor, por dinheiro, por sabedoria e conta com a opinião de vários especialistas (teólogos, sociólogos, antropólogos, psiquiatras, etc.). Destaco a pesquisa da Universidade de Washington, que prova que os estudantes mais persistentes em uma tarefa tiveram uma ativação maior na área límbica responsável pelas emoções. Outra pesquisa, complementar e publicada na revista Psychological Science, mostra que pessoas com grande auto-estima, característica comum aos ambiciosos, são mais persistentes nas tarefas que realizam. Outro ponto interessante, é que o ambicioso bem-sucedido sempre gosta do que faz.

A experiência mostra, no entanto, que quando a ambição é dissociada da busca apenas por dinheiro, as possibilidades de sucesso aumentam. Afinal, é muito difícil fazer bem algo de que não se gosta. Uma pesquisa feita pelo especialista em marketing Mark Albion confirma a tese. Há vinte anos, ele perguntou a 1500 jovens que concluíam um MBA o que iriam fazer da vida. 83% respondera que, finalmente, se dedicariam a "ganhar dinheiro". Os outros 17% afirmaram que se dedicariam a algo que lhes desse "satisfação e realização pessoal". Hoje, dos 1500 jovens, 101 são milionários e, destes, 100 pertenciam ao grupo dos 17%. Portanto, parece que o segredo para ter sucesso material é não se concentrar nele.

Por tudo isso, as citações de Freddie Mercury e de John Lennon no título me parecem complementares. E que maravilha o mundo seria se todo mundo reconhece a sua ambição e fosse atrás dela de coração aberto. Sobraria menos espaço para os que, na sua incapacidade de sonhar, ocupam-se da tentativa de ceifar os sonhos alheios, num exercício que se mostra, na maioria das vezes, infantil e mal-sucedido. Cá entre nós, é muita energia mal-administrada...Beijos, S*